Cultura

Filme confronta nazistas e cangaceiros do Sertão

A imagem de marinheiros alemães desembarcando na costa de Pernambuco não sai da cabeça do diretor Paulo Caldas. Ele costumava ouvir do pai a história de nazistas que chegaram em Porto de Galinhas e foram presos num quartel. Pensou: como seria um encontro deles com cangaceiros na praia?

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A ideia tomou forma e virou o roteiro de seu novo filme, "O Sertão Vai Virar Mar e o Mar Vai Virar Sertão", referência ao cineasta baiano Glauber Rocha (1939-1981). O projeto, em pré-produção, inicia as filmagens em 2014.

A história gira em torno de um casal de cangaceiros que vaga pelo sertão, no começo dos anos 1940, após o declínio do cangaço. À beira-mar, eles encontram um marinheiro alemão, interpretado por Peter Ketnath, que sobreviveu a um naufrágio.

Peter é um rosto conhecido do público brasileiro. Foi o vendedor de remédios de "Cinema, Aspirinas e Urubus" (2005), filme de estreia de Marcelo Gomes, e trabalhou em "Deserto Feliz" (2007), de Caldas. Falta definir quem serão os cangaceiros.

Caldas quer fugir dos clichês tanto do sertanejo heroico quanto do alemão atroz. "Tem um momento na praia que eles deixam de ser o cangaço e o nazismo, são seres humanos.

Estabelece-se ali uma interação que prevê todo tipo de sentimento: amor, paixão, compreensão", diz o autor que codirigiu, ao lado de Lírio Ferreira, "Baile Perfumado" (1997), um marco do cinema pernambucano.

Para colaborar no roteiro, Caldas chamou o amigo Hilton Lacerda, diretor do premiado "Tatuagem", em cartaz nos cinemas. Hilton vislumbra um tom fantástico nesse choque cultural: "O encontro é delirante, são culturas muito distantes, não será uma representação clássica de dois povos".

Bárbara Cunha/Arquivo Pessoal  
O diretor Paulo Caldas visita a réplica de um submarino alemão localizada em Munique; a nave será usada como locação de seu novo longa-metragem
O diretor Paulo Caldas visita a réplica de um submarino alemão localizada em Munique; a nave será usada como locação de seu novo longa-metragem

 SUBMARINO ALEMÃO
A produção, cujo orçamento deve ficar em torno de R$ 5 milhões, envolve três países: Brasil, Alemanha e Portugal. Um cenário já é certo: o interior de uma réplica de um submarino alemão usado na Segunda Guerra Mundial.

Em viagem a Munique neste ano, Caldas ficou encantado com o navio: "O motor funciona, estão lá os torpedos. As pessoas faziam uma decoração na parte interna como se fosse a própria casa".

Toda a trajetória do personagem de Peter antes de chegar à praia será filmada ali dentro. O mais curioso é que o navio foi usado num filme alemão muito popular na Europa, "O Barco" (1981), de Wolfgang Petersen, e fica instalado nos estúdios da Bavaria Film, em Munique.

Ao falar de sua nova obra, Caldas não esconde referências como Ruy Guerra e Mário Peixoto. Não quer se limitar a um retrato naturalista.

"O mar continua sendo um símbolo de liberdade, de encontro com a fantasia, de descoberta da natureza", diz.

FERNANDO MASINI
Folha de S. Paulo

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