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Aos 62, morre em Recife o poeta João Paraibano

Morreu na madrugada de hoje, no Hospital Alpha, no Recife, o poeta João Pereira da Luz, o João Paraibano, um dos mais talentosos da atual safra de repentistas do Sertão do Pajeú. Ele estava internado há mais de 20 dias em função de um acidente em Afogados da Ingazeira, onde morava.

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Na pancada, provocada por uma moto, teve um coágulo na cabeça e pegou uma infecção causada por uma bactéria. Paraibano de Princesa Isabel, mas radicado em Pernambuco, João tinha 62 anos.
O poeta foi atropelado na Rua Diomedes Gomes, em Afogados da Ingazeira. Segundo a polícia, a moto, conduzida pelo mototaxista Daniel Silva, atingiu o poeta quando atravessava a rua.

João Paraibano foi socorrido ao Hospital Regional Emília Câmara e no dia seguinte fez exames na Casa de Saúde Dr José Evóide de Moura. Os resultados apontaram a necessidade de transferência para Recife. João foi levado para o Hospital da Restauração para para o Hospital da Restauração para mais exames, onde foi identificado um coágulo.

RELEMBRE VERSO DO GÊNIO DO REPENTE

Essas duas décimas de improvisos do poeta João Paraibano, fizeram parte da apresentação do I festival de João Pessoa (Nas asas da inspiração), fazendo dupla com Sebastião Dias, sendo uma das premiadas daquele evento.

Já nasci inspirado no ponteio
Dos bordões da viola nordestina
Vendo as serras banhadas de neblina
Com uma lua imprensada pelo meio
Mãe fazendo oração de mão no seio
E uma rede ferindo o armador
Minha boca pagã cheirando a flor
Deslizando no bico do seu peito
Obrigado meu Deus por ter me feito
Nordestino, poeta e cantador.

Me criei com cuscuz e leite quente
Jerimum de fazenda e melancia
Com seis anos de idade eu já sabia
Quantas rimas se usava num repente
Fui nascido nas mãos da assistente
Na ausência dos olhos do doutor
Mamãe nunca fez sexo sem amor
Papai nunca abriu mão do seu direito
Obrigado meu Deus por ter me feito
Nordestino, poeta e cantador.

Versos de João Paraibano:

No vagão da saudade eu tenho ido
Ver a casa que antes nasci nela
Uma lata de flores na janela
A parede de taipa e o chão varrido
Milho mole esperando ser moído
Numa máquina com ferro enferrujado
Que apesar da preguiça e do enfado
Mãe botava de pouco e eu moía
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que eu fui criado

Já no filme da seca a gente vê
A poeira da terra levantando
As abelhas sedentas doidejando
Por não ter flor aberta no ipê
As feridas que tem no massapê
Só parecem pegadas do verão
Onde tinha a corneta do carão
Hoje resta a cigarra assobiando
A coivara da seca está queimando
Quase toda esperança do sertão

Outros Versos de Improviso:

Vi o fantasma da seca
Transportado numa rede
Vi o açude secando
Com três rachões na parede
E as abelhas no velório
Da flor que morreu de sede.

Terreno ruim não dá fruto,
Por mais que a gente cultive,
No seu céu eu nunca fui,
Sua estrela eu nunca tive,
Que o espinho não se hospeda,
Na mansão que a rosa vive.

A juventude não dá
Direito a segunda via
Jesus pintou meus cabelos
No final da boemia
Mas na hora de pintar
Esqueceu de perguntar
Qual era a cor que eu queria

Toda a noite quando deito
Um pesadelo me abraça
Meu cabelo que era preto
Está da cor de fumaça
Ficou branco após os trinta
Eu não quis gastar com tinta
O tempo pintou de graça

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