O luxo do lixo

“Nada mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem.” (Nelson Rodrigues)

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Francisco Jarismar de Oliveira | Colunista

Revirando o lixão da política nacional encontrei alguns descartes que me chamaram a atenção. O que me fez revirar, ainda mais, os destroços e encontrar cada vez mais abjetos inusitados. De repente talvez até permanecesse mais no insalubre ambiente, não fosse a obrigação civil de voltar ao convívio social para fazer uma nova limpeza. Faltam poucos dias para o coletor do lixo passar e a casa está imunda. Vamos à faxina?

De todos os pleitos eleitorais por mim vividos esse é o mais fétido. A conduta dos eleitores é a mais preocupante possível. Não vislumbramos nenhum projeto de soerguimento da economia nacional, nem proposta de pacto reconciliatório dos brasileiros. Os discursos vão do flato à pólvora em um riscar de fósforo. A população assiste ao desnudar de uma geração sem motivos para votar. Mas ainda não é o fim. A lei de Murphy nos afirma que “se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.”As eleições deste ano poderão confirma o dito.

A revitalização da políticaeconômica do país está de uma vez por todas entregue ao mercado financeiro. Os bancos continuam a sugar vampirescamente a população economicamente ativa e a tripudiar desumanamente no largo dos desempregados. Se algum candidato tiver propostas de resgate da capacidade financeira do brasileiro que se apresente.

No lixão político encontrei ainda a dignidade do brasileiro. Um dos dejetos mais tristes de revirar. Esta estava enlameada, amassada e rasgada. Mas tive o cuidado de certificar-me de que não estava contaminada de algum mal terrível e incurável antes de movimentá-la com os pés. Para meu desgosto alguns escritos naquela carta de vida ainda eram legíveis e lá decifrei outra frase de Nelson Rodrigues que berrava: o brasileiro não está preparado para ser o maior do mundo em coisa nenhuma. Ser o maior do mundo em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade. Essa responsabilidade bate a porta e nos convida a faxina em 7 de outubro.

Após muito revolver os destroços encontrei outro item que não deveria ter sido jogado ao lixo: a comiseração. O brasileiro atirou fora o seu sentimento de piedade pelo país e pelos seus compatriotas. Não mais nos compadecemos da nossa miséria social. Deixamo-nos envolver pelo ódio das paixões políticas e esquecemo-nos que, desse lado do mundo, estamos a mercê do nosso parco senso de compromisso e responsabilidade social.

Por fim, os últimos informes:o carro do lixo vai passar e mais uma vez corremos o risco de atirar fora votos de suma importância para o salvamento da nossa nação. Estamos sujeitos a nos desfazer do pouco que resta da nossa dignidade eleitoral reelegendo candidatos, estes sim, que já deveríamos ter jogado no monturo.

FRANCISCO JARISMAR DE OLIVEIRA (Mazinho)
Licenciado em História pela UFPB
Servidor Público Federal do IFPB