As galés espanholas do século XXI

Jarismar Oliveira (Mazinho) — Colunista
“Negar e silenciar é confirmar o racismo.”
técnico Roger Machado

As novas galés, puxadas no braço e no grito pelas torcidas nos estádios espanhóis,nos causamassombramento neste mar revolto do nosso tempo. Em 1478, os reinados católicos de Fernando de Aragão e Isabel de Castela estabeleceram o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, daí inquiro: Seria o caso Vini Júnior um resquício de seqüelas históricas da medonha Inquisição Espanhola em pleno século XXI?

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Começo por constatarque não há nada que defina, ou que sequer explique a discriminação, o racismo e a segregação presentes nas arquibancadas, ou nas galeras, do futebol espanhol.Tudo isso de forma explícita e se avolumando a cada rodada. Até onde vai essa nojice, já que dos limites já passou faz tempo?

A indiferença das organizações e instituições envolvidas nesse campeonato exala um cheiro de negrofobia que começa a aterrorizar não só os futebolistas, mas a todos que sabem dos fatos. As manchetes já rodam o planeta e não se tem registro de uma só providência por parte dos administradores do campeonato espanhol.Será que eles não percebem o que se passa e o que estão alimentando?

Na Inquisição Espanhola os judeus e muçulmanos convertidos ao catolicismo eram submetidos à regulação doutrinária de Aragão e Castela. Qualquer deslize na profissão da fé adotada era razão suficiente para o martírio nas labaredas. Contudo, aceitava-se a conversão e respeitavam-se os fidelíssimos. Só que não é possível transmutar humano negro em humano branco. O craque negro não muda a cor da pele ao alcançar o estrelato e o alto salário no futebol. Ela passa a ser exemplo de superação e estímulo para outros negros. Ele desnuda aos semelhantes – negros e brancos – que a cor da pele nunca poderá ser limitadora de sonhos e de capacidade de conquistas. Converter-se em astro e milionário nunca o tornará um homem branco.

Talvez esse venha a ser o argumento: o futebolista Vinícius José Paixão de Oliveira Júnior não conseguiu converter a sua cor. Ele, negro, nascido e criado dentro das probabilidades desfavoráveis do racismo estrutural brasileiro, perseverou e alcançou o lugar dos melhores jogadores do mundo. Convive com o alto padrão e as elites do futebol mundial. Mas é um homem negro, como a grande maioria dos craques, no futebol. E isso não muda, nem com o tempo, nem com o talento, nem com a convivência com os brancos.

Mas isso não pode ficar, nem continuar assim! Que se faça então a limpeza no futebol espanhol! Que todos os negros retirem-se dos seus times e deixem que apenas os brancos comandem os espetáculos nas quatro linhas. Afinal, as torcidas já deram seu parecer à La Liga: negros não são bem vindos. E se a cor branca foi adotada como cor oficial do mundo ocidental, que fazem esses negros aqui?

La Liga, ao fazer vista grossa frente ao preconceito racial,está a tripudiar sobre o que de mais precioso o esporte pode apresentar: a alegria do gol, o fair play e o respeito entre adversários. Se nada for feito é melhor desligar La Liga, pelo perigosíssimo exemplo que estimula. Se ainda somos primitivos, o racismo é uma prova.

Francisco Jarismar de Oliveira (Mazinho)  — Mestre em Ensino pela UERN. Licenciado em História pela UFCG; Especialista em Informática em Educação pela UFLA e Servidor Público Federal do IFPB.