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IFPB forma primeiro estudante do ensino superior com deficiência visual

Conseguir se formar no ensino superior do Brasil é um grande desafio para um deficiente visual. A insegurança começa desde o momento de escolher o curso, passando pela preparação para o vestibular. Quando vem a aprovação, nascem novos desafios: ter acesso aos conteúdos, conseguir boas notas nas provas, realizar atividades práticas e científicas e ser bem avaliado no trabalho de conclusão de curso (TCC). Com muito esforço e dedicação, o estudante de Licenciatura em Química Leonardo Xavier Lopes Daniel conseguiu concluir essa fase tão importante das nossas vidas. Ele é o primeiro deficiente visual a se formar em um curso superior no IFPB.

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Quando perdeu a visão, Leonardo, que ainda cursava ao ensino médio, quis desistir dos estudos. Por conta do incentivo da família, ele conseguiu concluir e fazer o Exame Nacional do Ensino Médio. No momento da escolha do curso superior, o jovem se inscreveu para Licenciatura em Química no IFPB – campus João Pessoa sem ter muita esperança de ser classificado. “Quando saiu o resultado, vi que eu fiquei em primeiro lugar nas cotas, aí fiquei preocupado com a quantidade de cadeiras de cálculos que iria ter que pagar, mas entrei para o curso”.

Leonardo conta que quando iniciou a licenciatura houve preocupação por parte dos professores com relação a questões de segurança no manuseio de substâncias no laboratório. Até o quinto período, o aluno não conseguia ter autonomia nas disciplinas práticas, fazia apenas atividades complementares, como anotação de pesos, medidas e resultados.

Foi na disciplina de Prática Profissional, com o professor Sérgio Santos, que tudo começou a mudar. O docente desenvolveu uma balança mecânica, de escala tríplice, composta por recursos sonoros capazes de auxiliar o aluno na pesagem de substâncias. O instrumento não só trouxe autonomia para o aluno, como também serviu de modelo pedagógico para a turma, de acordo com o professor. “Aqueles que não acreditavam que era possível ensinar química a um deficiente visual se deram conta de que era só querer e buscar alternativas para as limitações técnicas. Nos aspectos humano, de respeito, pedagógico foi excelente”.
Prova disso é que a experiência vivenciada em sala de aula inspirou os futuros professores de química a buscarem a capacitação na área de inclusão. Lilian Mamedes, por exemplo, fez o curso de transcrição de textos em Braille e hoje, trabalha dando apoio a estudantes deficientes visuais no campus João Pessoa. “A experiência que vivenciamos em sala de aula sobre inclusão foi incrível. A partir daí, eu busquei estudar sobre o assunto e percebi que existem muitas ferramentas pedagógicas que podem ser trabalhadas com o deficiente visual e não é muito complicado, basta só ter boa vontade e disposição”.

O projeto da balança adaptada ganhou uma metodologia de utilização por deficientes visuais, pesquisa que virou tema do TCC de Leonardo. Agora, o próximo passo é ajudar outros alunos. “As escolas onde fiz o ensino médio possuíam laboratórios de química, mas eu só ouvia falar. Espero que a partir desse modelo, outros deficientes visuais ou pessoas com baixa visão consigam ter autonomia em algumas atividades realizadas no laboratório”.

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