Brasil

Água e serviços médicos aos sertanejos afetados pela seca

Bodes franzinos devoravam a palidez da grama à margem do caminho, quase uma vereda, de terra batida. E o comboio de homens trajando fardas verde-oliva mal viu bichos de grande porte nos campos entre montanhas. Mais comuns eram as carcaças tragadas por urubus. Pela sequidão dos dias. Na comunidade da Pedra Ferrada, assim como em toda a cidade de Irauçuba, a 186 km de Fortaleza, solidariedade é algo tão essencial à vida quanto a água, em falta nos reservatórios naturais.

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Os 22 mil habitantes do município-sede e distritos dependem de operações carros-pipa como a realizada ontem pelo Exército Brasileiro para sobreviverem. A zona rural – onde as casas distam milhas umas das outras e o acesso é sempre dificultoso – concentra 36% dessa população (oito mil pessoas). “Sem eles, só Deus!”, resumiu Valneide Mesquita de Paiva, 26.

Para ela e outras 304 famílias de Irauçuba beneficiadas pela missão dos 150 homens da 10ª Região Militar, os próximos 30 dias serão de coração tranquilo no tocante à água. Os 16 mil litros armazenados no equipamento de Valneide suprem as necessidades de cinco residências.

Ela sentencia: “água aqui é muito difícil. Tem encanação e tudo, mas é difícil chegar. Então, quando eles enchem (a cisterna), a gente tem que saber economizar. Em tudo. Mas, mesmo assim, eu acho bom aqui. Não tenho vontade de sair.”

A força-tarefa do Exército estende-se até amanhã e conta com o apoio da prefeitura. Populações de Ocara e Crateús, igualmente afetadas por esta que é a maior seca dos últimos 60 anos, também recebem ajuda. Só em Irauçuba, porém, serão distribuídos 192 mil litros d’água, 108 mil dos quais entregues ontem.

Aproximação

Coordenador da Operação Carro-pipa no Ceará, o coronel Claudemir Rangel revelou que a tropa foi deslocada de Fortaleza para atuar na missão sertaneja. A ação existe há anos, mas ontem diferenciou-se por ofertar serviços médicos e de entretenimento. “Irauçuba se destaca pela dificuldade no acesso à água. Mas também viemos pela garantia da lei e da ordem, com ações de polícia, controle de estradas etc, e para nos aproximarmos ainda mais das pessoas”, explicou.

Para quem mora na zona urbana de Irauçuba, como Helena Lopes, 40, ontem foi dia de saber o motivo das dores recorrentes no joelho. Ela buscou consulta com um clínico geral. “Aqui falta médico especializado. Eu já tomo remédio por conta própria, mas não serve de nada. Preciso descobrir o que é esse inchaço. E esse serviço deles é muito bom. Devia ter esse tipo de coisa aqui pelo menos duas vezes no ano”, opinou a autônoma.


O POVO

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