Senhor candidato

Jarismar Oliveira (Mazinho) — Colunista
Um político divide os seres humanos em
duas classes: instrumentos e inimigos.
Friedrich Nietzsche

Seja bem vindo, senhor candidato! Aceita um cafezinho? Primeiro, quero cumprimentá-lo e desejar-lhe uma ótima campanha e uma excelente votação. Serei breve em minhas expressões, contudo rogo-lhe atenção às minhas poucas palavras. Já antevejo o azedume que talvez elas lhe causem, porém advirto-lhe que se acostume, principalmente se for esta a sua primeira disputa eleitoral.

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Peço desculpas de forma antecipada pois sei que em algum momento vou parecer grosseiro, mas conto com a sua paciência comigo e para com todos que se sentirem representados nas minhas próximas palavras, é a força da circunstância que, por vezes, nos tira do prumo e faz com que nos consignemos a desabafar em momentos oportunos, como o que agora vivemos.

Gostaria muito que o senhor houvesse nos visitado mais vezes, e não de repente como agora. A surpresa da sua chegada em minha casa é cabulosa. Nunca havíamos nos cumprimentado e subitamente preciso lhe oferecer um café, enquanto lhe ouço bonito discurso. Não me lembro de uma única vez em que o senhor tenha me saudado na rua ou outro ambiente em que nos esbarramos, porém lhe confesso, estou abismado com tudo o que o senhor guardou para me dizer de uma só vez.

Tenho necessidades, sim. Sou um trabalhador que defende o pão de cada dia para minha família. Vivo na labuta diária para que os meus filhos possam ir à escola, ter comida na mesa e um teto para morar. O senhor reconhece as minhas carências e promete resolvê-las num toque de mágica. O senhor me diz que tudo vai mudar para melhor; que tudo só depende de mim e do meu voto. O senhor se esquece que eu tenho cérebro e entendo que um tijolo só se sustenta sobre outro. Soluções fáceis geralmente são fantasiosas e nunca dão cabo dos problemas.

Eu raciocino que todas as vezes que vou ao mercado comprar feijão, arroz e a mistura, deixo lá uma parte do meu suor. A comida eu trago, mas tem um tal de imposto que fica lá. O senhor talvez ache que eu não saiba, mas está enganado. O senhor adentrou em minha casa hoje pela primeira vez, já eu estou presente em sua vida a todo instante, desde que o senhor se candidatou. A carga de impostos que eu e todos os cidadãos pagamos, desde o sal até a pinga do final de semana, é que custeia o seu posto de candidato. O fundo eleitoral e o fundo partidário que o senhor gasta com esses “santinhos” é custeado pelo imposto que nós eleitores pagamos. Até o cafezinho que o senhor está tomando agora tem, na sua composição, muito do meu cansaço diário e o imposto que lhe banca os gastos de campanha.

Entretanto, eu não estou aqui para alegar que banco os numerários do senhor, dos seus assessores e mais chegados. Não estou aqui para dizer que o senhor vive as minhas custas, não. Queria apenas que o senhor fosse mais presente e correspondesse ao mínimo do que me promete neste momento. Sei que só o verei daqui a quatro anos, porém não posso perder a oportunidade de lhe dizer que não preciso do dinheiro do senhor. Na realidade, é o senhor que precisa do meu. O Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo. Quando o senhor vem na minha casa me oferecer o “seu” dinheiro, na verdade o senhor está me ofertando de volta o que já é meu. A montanha de tributos que pago lhe financia o material de campanha e ainda lhe dá margem para me tentar corromper. Quero dizer que lhe tenho respeito, mas não lhe devo favor. Pelo contrário, o senhor é quem me deve trabalho e resposta séria, caso seja eleito. E se o senhor não for eleito, tenha a decência de me desejar um bom dia, após as eleições, quando nos esbarrarmos na rua, eu indo trabalhar e o senhor distribuir simpatia.

Dizem que os candidatos de hoje em dia “valorizam a esperteza e o sucesso a qualquer custo; que detestam o trabalho e o estudo; que buscam o acesso ao patrimônio público para proveito pessoal; que almejam os cabides de emprego e os cargos fantasmas; que desprezam a justiça desde que a injustiça lhes seja vantajosa; que enriquecem através dos negócios sujos com o Estado; que são incapazes de discernir, comover-se e indignar-se diante de infâmias”, mas eu não penso isso do senhor, ainda.

Espero que o cafezinho esteja a gosto. Recuso a sua oferta de hoje, mas exijo que considere cumprir tudo o que promete para todos os que lhe ouvem, caso seja eleito. O Brasil tem 212.000.000 de habitantes, eu sou um deles e vou as urnas no dia 06 de outubro com as mãos e consciência limpas. Desejo o mesmo ao senhor.

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Francisco Jarismar de Oliveira (Mazinho)  — Mestre em Ensino pela UERN. Licenciado em História pela UFCG; Especialista em Informática em Educação pela UFLA e Servidor Público Federal do IFPB.