Neymar e o reflexo da nossa agonia

“Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos”. (Nelson Rodrigues)

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Francisco Jarismar de Oliveira | Colunista

Na vigésima primeira edição do Campeonato Mundial de Futebol FIFA, acontecendo na Rússia, neste mês, já podemos desembrulhar algumas observações sem receio de exagero ou precipitações. Algumas constatações já eram esperadas, só não tínhamos como dimensionar a forma e os feitos em seu protagonismo. Taí o VAR, o machismo brasileiro e o Neymar para nos atestar os rumos que essa copa pode tomar. “Sigam-me os bons…!”

Um primeiro questionamento é o porquê da Rússia sediar o grande evento. Ora, a geladeira russa começa a degelar seu freezer com o calor da corrupção. À semelhança do mesmo evento ocorrido no Brasil em 2014, os russos também superfaturam obras. Só para dar um exemplo, o estádio de Kaliningrado foi erigido ao custo de US$ 280 milhões para um público 35 mil pessoas. Isso nos lembra os estádios de Manaus, Cuiabá, Natal e Brasília. Pronto.

O lamaçal dos corruptos e corruptores se instalou na ex URSS desde a suspeição levantada no sorteio para escolha da sede do evento, até a utilização da paixão popular como subterfúrgio político pelo ex agente da KGB. Para o presidente russo Vladimir Vladimirovitch Putin “o esporte vai além da política”, “não se trata apenas de um espetáculo, mas serve para que o mundo conheça uma nação”. (Ah, tá! No Brasil funcionou beleza, o mundo agora nos conhece.)

Mas a presença do VAR (video assistant referee ou árbitro assistente de vídeo) é o que de mais inovador se pode ver num espetáculo que começa a deixar para trás a malandragem, as artimanhas, a catimba e a manha. Se esses recursos eram o tempero do futebol arte, do futebol diversão, show, espetáculo os mesmos estão a perder espaço. O VAR ver tudo e tira o sal. Esqueçam a “mão de Deus” de Maradona em 1986; os dois passos de Nilton Santos em 1962 (talvez não fôssemos Bi naquela Copa); o título Inglês (único) em 1966 com a bola quicando na linha e o árbitro marcando gol; e a camisa de Zico rasgada e o pênalti não marcado contra a Itália em 1982. Injustiça? Não. Futebol livre e jogado dentro da emoção das quatro linhas, simples assim.

O VAR ver tudo com os olhos da frieza. Olhos de um calculismo que só os grandes investimentos requerem. Nenhum dólar investido pode ser prejudicado pela peripécia criativa de algum jogador. E, diga-se de passagem, numa Copa do Mundo da Fifa dos tempos contemporâneos os investimentos são estratosféricos. E já constatamos, o VAR não está pra fazer justiça, não é mesmo? A seleção brasileira que o diga.

Terminamos com uma rápida olhadela no comportamento dos “coxinhas” em Moscow. Os bilionários dentro das quatro linhas e os milionários nas arquibancadas são vexatórios quando trata-se do quesito cordialidade, fineza, educação, boas maneiras e bons costumes. O assédio e o desrespeito dos “coxinhas” machos com as nossas anfitriãs russas e ruborizante. E a mídia hipócrita brasileira ainda se escandaliza, como se no Brasil esse comportamento fosse diferente! Como se a “surubinha de leve” fosse um hit siberiano…

Já a nossa maior estrela nos gramados, aquele que leva a seleção nas costas e o Brasil no peito, aquele que lança moda no penteado e em outras firulas, aquele… o desmoronante Neymar, este é um pavor para os ouvidos dos colegas de profissão. Seu futebol ainda vai se apresentar nesta Copa, eu espero. Mas o seu destempero e vocabulário já partiram na frente lançando nova moda no desabafo: é só gritar “vá tomar no c…” e “filho da p…” pra todo mundo. Depois é só cair no choro e tá feito o meme do hexa!

FRANCISCO JARISMAR DE OLIVEIRA (Mazinho)
Licenciado em História pela UFPB
Servidor Público Federal do IFPB