Os 13 milhões de maio

“A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores.” (Karl Marx)

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Francisco Jarismar de Oliveira | Colunista

Em 1886, as ruas de Chicago foram tomadas pela manifestação de 500 mil trabalhadores, a América fervia na temperatura dos movimentos sindicais. Já em 1891, acontecia, na França, o Congresso Operário Internacional que foi uma manifestação anual em homenagem aos movimentos e lutas sindicais ocorridas em Chicago, 5 anos antes. Assim, nascia a data do 10 de maio como Dia do Trabalho.

A concepção histórica do trabalho é vertente de muitas interpretações e reflexões. Por muito tempo o homem buscou se adaptar ao trabalho. Tornando-se um servo seu e, numa relação de escambo, buscando trocar sua força produtiva por um bem necessário à sua sobrevivência. Hoje, o estudo para adaptar o trabalho ao homem é trincheira de muitos sociólogos e outros cientistas sociais. Há avanços, quando já consideramos a expressão do trabalho em três espaços: o pessoal, o familiar e o profissional. Mas não foi sempre assim.

No Brasil o trabalho chega com as caravelas e traz em seu esboço a escravidão. O trabalho não remunerado e a infeliz condição de um ser humano ser proprietário do outro, foi a mola mestra de uma jovem nação que cedo engrenaria na cultura escravocrata e dela só arredaria quatro séculos depois, em 13 de maio de 1888.

Desse ponto em diante um homem não seria mais dono de outro. O ser humano, o negro, não era mais uma coisa, um objeto comercializado e alça ao patamar de uma dignidade humana mínima. Iniciamos o nosso rabisco de liberdade no trabalho livre (não escravo), até o trabalho assalariado. Mas a história do 10 de maio tem mais para contar. Ainda mais com a chegada da industrialização nos séculos XVII e XIX.

No Brasil foram 400 anos de trabalho forçado, sob a chibata e o tronco. Mas a Rússia sacode o mundo com a sua Revolução em 1917. Fato este que traz ao palco da história dos homens uma encenação real, protagonizada pelos trabalhadores, que agora eram donos da sua força de trabalho e, pelas armas, dono dos meios de produção, exemplo que se alastraria mundo afora.

E os trabalhadores se envolvem na política. Daí em diante a trajetória do trabalho no mundo toma corpo e passa a enformar um movimento unificado com representatividade internacional: a OIT – Organização Internacional do Trabalho, uma agência das Nações Unidas, “cuja missão é promover o acesso ao trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade”. Que passaria a atuar na definição das legislações trabalhistas globais.

O governo do presidente Getúlio Vargas, no Estado Novo (1937-1945), avança com reformas sociais significativas, o “Pai dos Pobres” institui a CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas: reconhecendo direitos como férias, décimo-terceiro salário, FGTS entre outros. Um marco na história dos trabalhadores brasileiros e uma garantia de sobrevivência, até o governo atual.

A força trabalhista brasileira, assim como a Russa, enveredou na seara política e, em 16 de julho de 1968, os metalúrgicos de Osasco-SP, disparam contra a ditadura militar e deflagram uma greve histórica. Outras viriam e em 1978 projetariam um líder sindical para o cenário político nacional: um sindicalista jovem que começou a trabalhar aos 12 anos e teve sua primeira carteira assinada aos 14, nordestino, natural de Garanhuns-PE e de nome Luiz Inácio da Silva.

Não demoraria e no dia 10 de fevereiro 1980, no Colégio Sion, em São Paulo trabalhadores, militantes de esquerda, intelectuais e artistas fundam a primeira agremiação político partidária em defesa dos direitos dos trabalhadores e de combate as injustiças sociais.

Hoje em dia o trabalhador vive no cativeiro da terceirização. Ter um emprego é muito, mas muito mais importante que ter um salário digno. Estamos voltando a um tempo em que termos uma ocupação garantida no mercado de trabalho nos alimenta a falsa ilusão de que não estamos relegados a sarjeta social. E isso é muito perigoso.

De resto, o atual e temeroso governo tripudia no legado histórico deixado por Getúlio Vargas e pelas lutas sindicais de décadas passadas. Entrega tudo a terceirização ampla e promove a perda de direitos conquistados a sangue e fogo. Chegamos a um 10 de maio onde mais de 13 milhões de desempregados clamam por um trabalho justo e uma dignidade em extinção.

FRANCISCO JARISMAR DE OLIVEIRA (Mazinho)
Licenciado em História pela UFPB
Servidor Público Federal do IFPB