Então é natal, e o que você continua fazendo?

 

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Mudaria o Natal ou mudei eu?
Machado de Assis
Francisco Jarismar de Oliveira (Mazinho)| Colunista

Nenhum livro bíblico cita qualquer data que seja, alusiva ao nascimento de Jesus. Historicamente, foi o imperador Aureliano, no ano de 274, que proclamou a data de 25 de dezembro como “Dies NatalisInvictiSolis” (O Dia do Nascimento do Sol Inconquistável).Segundo o professor de Filosofia Antiga da UnB, Gabriele Cornelli, esta data foi herdada dos babilônios, persas, egípcios e gregos. Todos homenageavam o deus Sol no solstício de inverno, que no hemisfério norte acontece sempre no último mês do calendário (no hemisfério sul é em julho).

Quando Roma elevoua religiãocristã ao mesmo patamar das pagãs, foi escolhido este dia para celebrar o nascimento do Cristo. O decreto foiaprovado pelo Papa Julio I, em 350.E o império romano sob a batuta do imperador Constantino, no século IV, cristianizou a data comemorando o nascimento de Jesus pela primeira vez no ano 354.

Quanto ao AnnoDominni, coube a Dionísio, o exíguo (monge, astrônomo e historiador grego), a convite do Papa João I, fazer as contas para determinar o ano do nascimento de Jesus. Isso no ano de 532, na época denominado ano 284 da Era Diocleciana. Contas feitas o calendário, que antes iniciava com o reino do Imperador Deocleciano, agora passava contar como ponto de partida o ano de nascimento do Cristo. Contestado pelo Papa Gregório XIII o cálculo foi refeito acusando diferença de 10 dias, em 1582. O nosso atual calendário, o Gregoriano, ainda sofre conflito de cálculos com os historiadores apontando o nascimento de Jesus no ano 6 a.C. Fiquemos por aqui.

Estudiosos e historiadores das origens do cristianismo convergem como não sendo 25 de dezembro a data da maior natividade cristã. Marcos, o mais antigo dos evangelhos, silencia, também, sobre o local do nascimento de Jesus. O Evangelho de João, o “discípulo amado de Jesus”, último a ser escrito,o acompanha.Ambos só relatam a vida de Jesus na idade adulta. Ou seja, data e local de nascimento estão silenciados por dois dos quatro evangelhos canônicos. Sendo que Marcos, mesmo não tendo convivido com Jesus, foi o primeiro literato evangélico, compilando os relatos de Pedro no ano de 56 e servindo de base para a composição dos demais livros do Novo Testamento.

Os fariseus se perguntavam “se poderia nascer algo bom em Nazaré”. Ora, os judeus eram designados ou pelo nome do pai ou pelo lugar de nascimento. Jesus teria de se chamar Jesus de José ou Jesus de Belém, algo que não aparece em nenhum texto evangelista. Neles (em todos), chama-se sempre Jesus de Nazaré. O que nos atiça a curiosidade sobre a real natalidade de Jesus. Mateus e Lucas indicam Belém, já Marcos e João apresentam Jesus como sendo de Nazaré. Novamente, fiquemos por aqui.

Estas questões foram postas não para ampliar ou acirrar qualquer debate.Não é o caso. Foram pontuadas apenas para recobrar que, enquanto cristãos, devemos estar atentos ao espírito natalino. Não é a data ou o local que vai mudar o significado da presença de Jesus entre nós e seu legado para a humanidade. A lei de amor, da qual estão impregnados seu exemplo e ensinamentos, é atemporal. “Não conheço ninguém que tenha feito mais para a humanidade do que Jesus. De fato, não há nada de errado no cristianismo. O problema são vocês, cristãos. Vocês nem começaram a viver segundo os seus próprios ensinamentos”, nos assevera Mahatma Gandhi.

A mensagem viva do Cristo está sendo desvirtuada por nós e nossa cultura consumista. O natal cede, a cada ano, mais espaço para fantasias descartáveis como Papai Noel, presentes e mesa farta ante a miséria e falta de compaixão. A mídia, descompromissada com qualquer atitude cristã, aturde as massas com a loucura das compras natalinas em detrimento da reflexão necessária ao amor, a paz, a benevolência, a generosidade, a caridade, ao amparo dos que mais necessitam. Estas ações deveriam ser promovidas em todos os dias do ano, porque Jesus nasce todos os dias e em todos os lugares.

FRANCISCO JARISMAR DE OLIVEIRA (Mazinho)
Licenciado em História pela UFPB
Servidor Público Federal do IFPB