Divulgação de imagens fortes na internet: jornalismo ou falta de bom senso?

Júlio César Rolim (colunista do Radar Sertanejo)

Vivemos a era da informação. As tecnologias, os novos veículos e meios promovem uma revolução na comunicação. Há pouco tempo apenas a imprensa tradicional informava a população, para saber o que acontecia no mundo ou mesmo no bairro vizinho era necessário ouvir o rádio, assistir a TV ou ler os jornais e revistas. Com a popularização da internet tudo mudou, os veículos convencionais ainda existem (e espero que continuem por muito tempo), mas, tiveram que se adaptar, mudar, acompanhar a evolução. A informação não está mais nas mãos de poucos, o “monopólio” foi quebrado, embora ainda seja forte, talvez em virtude do prestígio adquirido ao longo da história.

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Hoje em dia muitas pessoas conseguem andar com uma pequena redação jornalística no bolso, os smartphones fotografam, filmam, editam, e tudo isso com a possibilidade de envio em tempo real, consequentemente compartilhado inúmeras vezes. As mídias sociais tornaram-se fonte para tomar conhecimento do que está acontecendo nos mais remotos pontos do planeta. Essas facilidades democratizaram a comunicação, muitas pessoas (não todas já que várias ainda não tem acesso às tecnologias e inovações) produzem conteúdo e o divulga em suas redes. Porém, essa popularização também trouxe problemas, a facilidade veio acompanhada do pensamento de que é preciso informar a todo custo e de preferência mais rápido que outros com a mesma vontade. Muitos são os aspectos negativos dessa ânsia de comunicar, a exemplo de disseminar notícias falsas, mas deixarei o assunto dos fake news para outro artigo (há muito o que se falar). Vou me deter a outro ponto polêmico e, na minha opinião, também bastante prejudicial. Trata-se de filmar, fotografar, compartilhar e divulgar imagens de pessoas feridas, agonizando ou mortas.

Não é raro recebermos em nossos celulares pequenos filmes com carros em chamas, alguns com as vítimas ainda dentro dos veículos, tiroteios, até decapitações já recebi. O intento é informar, mostrar às pessoas o que acontece na vida real. Todavia, muitas vezes é necessário que se tenha um filtro interno, um minuto de reflexão acerca do que realmente é importante ser exibido. Para que se avise de um acidente na BR 230, por exemplo, é dispensável as imagens dos corpos ou pedaços deles. Comentar sobre um homicídio, não é preâmbulo para apresentar a vítima de olhos abertos deitada no chão com um tiro na testa. Trazer os detalhes de um suicídio não nos dá aval para mostrar o morto esticado numa corda, mesmo que após a foto venha um emoji com uma carinha triste.

Mas, o erro não se limita a quem faz as imagens, se estende a todos que as compartilham. Há nesses atos, no mínimo, duas faltas de respeito: a primeira se refere às pessoas que recebem as fotos ou vídeos, ora, ninguém é obrigado a estar em sua casa ou trabalho e, sem pedir, se deparar com imagens chocantes. Por outro lado, ainda pior, os comunicadores se esquecem que os familiares das vítimas podem receber, sem ter a menor vontade de ver, as imagens de seus parentes mortos. Claro, existem pessoas que propagam as cenas sem a noção do desserviço que estão fazendo, a sede de informar fala mais alto que o equilíbrio ou a cautela.

Essas atitudes não são jornalismo, tampouco informação, ao contrário, podem denotar desinformação. Exercitar a empatia não faz mal a ninguém. Antes de clicar no enviar ou encaminhar é bom respirar algumas vezes e se perguntar: “Se fosse eu do lado de lá?”, “Se fossem meus entes?”, “Qual a relevância disso?”. Ser jornalista é ter criticidade suficiente para conhecer os limites inerentes à comunicação. Não estou defendendo a censura às mídias sociais ou ao livre direito à informação, sou entusiasta das novas formas de se noticiar os fatos, mas, neste momento, advogo pelo bom senso.

Júlio César Rolim