Briga por água

Deprimente. Não teria outra palavra para definir a cena flagrada por um internauta em São José de Piranhas, no sertão da Paraíba, que entrou em colapso total no abastecimento d´água, mostrando duas mulheres brigando pelo direito de pegar água primeiro que a outra em um dos poços artesianos disponibilizados para a população.

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A cena, dantesca por si só – e talvez muito mais comum do se que imagina, por conta da longa estiagem que castiga o sertão e outras regiões do Estado com inúmeras cidades e comunidades penando com a falta absoluta de água potável -, nos remete a outros anos, quando, além da falta de chuva, os sistemas de adutoras, quando haviam, ainda eram insuficientes para atenderem às demandas da população.

Olhando para o céu sem nenhuma perspectiva de chuva e sentindo o aumento cada vez maior da temperatura e sem água para beber ou para as necessidades mais básicas, como alimentação e higiene, o sertanejo não pode ser culpado se perder sua razão e surtar, como fizeram as mulheres de São José de Piranhas, levadas pelo desespero.

Talvez elas sejam vizinhas, amigas, parentes. Talvez elas estejam envergonhadas com o episódio. Talvez não devessem estar. Talvez quem devessem se envergonhar fossem as autoridades públicas, de todas as esferas, responsáveis diretas ou indiretas pela garantia dos direitos básicos dos cidadãos. Talvez não saibam que não pode haver direito mais básico para qualquer ser humano do que a água.

Como a seca é um fenômeno natural, inevitável, porém previsível, não se justifica que, em mundo tão tecnológico – em que se sabe com quantos quilômetros da Terra um meteoro irá passar daqui a 43 anos, cinco horas e 14 segundos -, não sejam agilizadas medidas que atenuem os seus efeitos, além de reuniões públicas, comissões parlamentares para fazerem sobrevoos com dinheiro público na região e refastelarem-se com galinha de capoeira e outras iguarias sertanejas.

Como última esperança para a região, resta a conclusão das benditas obras da transposição do Rio São Francisco, já adiada tantas vezes, e que todos veem como única solução para mais de três milhões de pessoas nos semiáridos da Paraíba, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

A briga das duas mulheres sertanejas foi pela sobrevivência delas e das suas famílias, isto é certo, e talvez devessem ser vista pelos deputados e senadores no conforto dos seus caros gabinetes.