A graça de não ser babão

Louvo ao meu bom Deus pela graça incomensurável de não viver paparicando quem quer que seja. Dessa desgraçada doença sou imune. Tenho a absoluta convicção que já nasci vacinado contra tal estado de espírito doentio. Obrigado, Senhor, por essa graça que me faz tanto bem, afinal, ser bajulador é um perigo, pois é um causador de muitos males.

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Pensem numa atitude nojenta, sebosa, é essa de viver paparicando superiores, os que têm dinheiro, posição social, anel de doutor, notoriedade, prestígio, detentores do poder público (prefeito, deputado, senador, juízes, promotores…) e religiosos (Bispos, Padres etc.). Tenho ojeriza de quem vive nesse estado de lambança. Ah, coisa nojenta! Há gente que bajula tanto, que esquece da própria vida, tornando-se um verdadeiro mamulengo ou marionete nas mãos dos bajulados. Esses coitados, além de serem carentes de solidez ético-moral, com perfil de falsos e hipócritas, são tão subservientes, dependentes, inferiorizados, que esquecem de si mesmos, deixando de sonhar, de lutar e serem independentes. São mais grudados que carrapatos.

Já observaram que o babão de tudo faz para agradar aos seus superiores, aos doutores, às madames dos narizes empinados, aos endinheirados, ou a gente “importante”? Pois é, de tudo faz: oferece-lhes jantar especial, vez por outra, leva um presente ou um agrado, se dispõe a ajudá-lo em algumas tarefas cotidianas, leva recado, entrega e inventa calúnias dos colegas, inventa fuxico, conta piada, anda com o mesmo, tipo guarda-costas etc. Trata-se de um verdadeiro lambe-lambe. E toma lambança. Coitado, não tem consciência de suas atitudes extremamente ridículas e prejudiciais a si e aos outros.

Ah, ia esquecendo-me dos lugares prediletos dos bajuladores: gabinete, sala de TV e de refeições, calçada e cozinha, na mesa de bares, nas viagens, nos passeios, onde conversas “amistosas” vêm e vão. E toma conversa ao pé do ouvido contra as vítimas. Esses lugares são, indubitavelmente, a tribuna por excelência dos verdadeiros bajuladores. E haja língua afiada. E ai das vítimas dessa gente imatura, ingênua, sem personalidade definida. Coitadas, são colocadas no caldeirão do inferno. Tudo isso não é gratuito. O paparicador visa sempre o retorno em forma de elogio, reconhecimento, PROMOÇÃO e muito mais.

Muita gente tem sofrido e continua sofrendo porque certos superiores ou chefes têm levado e continua levando a sério as “conversas” dos diabos dos babões. Muitos perdem a confiança, o emprego, a oportunidades de ascensão profissional, ou são “queimados” para sempre nas fogueiras do inferno por causa de fofocas, calúnias, mentiras. . Eu mesmo já fui vítima muitas vezes desse tipo de gente, inclusive de colegas… Aliás, continuo sofrendo… Mas, não me rendo.

Triste de quem sofre dessa obsessão por babaquice. Diria que há até explicações ou motivos para essa famigerada safadeza. Ei-las:

Necessidade econômica. Muitas vezes, a dependência econômica leva a pessoa a sujeitar-se de forma humilhante a quem quer que seja. O que leva o sujeito a ser tratado como coisa, moleque de recado etc. Vale ressaltar que muitos dos que “babam” são pessoas necessitadas (não esquecer de quem tem vergonha na cara, tem caráter, espírito de firmeza, maturidade, honestidade etc., mesmo sendo necessitado, economicamente falando, não vive de puxar saco de seu “doutor”, do seu “patrão”). Exemplo: o cidadão na santa ingenuidade, para garantir seu empreguinho ou subemprego, ou o emprego do seu parente próximo, só falta mesmo enxugar os pés do prefeito, do vereador, do deputado, do senador ou do seu superior. E toma paparicagem recheada de fofocas, mentiras, engôdos etc. O triste é que o paparicador é uma parede de proteção do seu “chefão”. É um defensor das más línguas. E toma “movimento”. E aí de quem falar mal do patrão;

Necessidade de reconhecimento ou promoção. Muitos vivem de babar, visando receber recompensa, ser admirados, reconhecidos, promovidos, ser aplaudidos, ganhar destaque e, o pior de todos, conquistar do chefe ou de outra pessoa que ocupa cargo importante, posição de superioridade diante das demais pessoas. Mas, para isso, esses pobres de espírito jogam pesado contra todos e contra tudo, numa verdadeira espécie de entrega e humilhação.

Deus me livre desta triste doença. Nunca fui de paparicar ninguém. Mesmo ás vezes me incluindo no primeiro item. Nunca procurei bajular quem quer que seja. Não vivo de correr atrás dos meus superiores, de ricos, da elite, de políticos, de doutores, de famosos, de gente fina, ou de quem quer que seja, em busca de reconhecimento, de recompensa, de promoção. Dessa, estou fora. Também, não aceito ser paparicado. Disso, tenho ojeriza. Sou o que sou com a graça de Deus.

Prefiro ser excluído, marginalizado, tratado com desdém, ignorado, rejeitado, a ser babão, seja de quem for.

“Xeléu ou xeléu, seu lugar tá garantido lá no céu”. Pode ser também no inferno.

Padre Djacy Brasileiro, em 01 de julho de 2017.
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