PARAÍBA

Sertanejos festejam inverno, mas previsões indicam a volta da seca

(Foto: Ortilo Antônio/ Arquivo/ A União)

Olhando os céus e seguindo a inabalável fé dos sertanejos do Nordeste, São José tem sido generoso e está garantindo um bom inverno, regando as lavouras com chuvas regulares e fazendo os açudes acumularem água para matar a sede dos humanos e dos animais nesse início de 2023. Tanto que mereceu louvores na semana passada. Até o governador do Estado não esqueceu de agradecer a ajuda do poderoso santo.

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Todavia, noutra trilha, seguindo a ciência, vale lembrar que os períodos chuvosos mais abundantes na região são resultado do ciclo da La Niña, fenômeno de resfriamento mais intenso das águas do Oceano Pacífico, cujas consequências, no Brasil, são o registro de seca no Sul e chuvas abundantes no Norte e Nordeste. Exatamente o que vem ocorrendo nos últimos três anos.

O fenômeno oposto, como já sabe, é o El Niño, que se caracteriza pelo aquecimento intenso das águas superficiais e subsuperficiais do Oceano Pacífico Equatorial (costa do Peru, Equador e adjacências), cujas consequências em solo brasileiro são chuvas fortes e enchentes no Sul e Sudeste e seca do Nordeste.

Os estudos que registram esses fenômenos têm sido infalíveis. O melhor que se pode fazer, então, é adotar todas as providências para amenizar os problemas quando os dois ciclos se instalam mais intensamente. Responsabilidade de instituições científicas e sociais, corporações empresariais, das pessoas e, sobretudo, dos governos.

O problema por aqui é que, apesar da assertiva da ciência e da certeza dos fenômenos, os processos e procedimentos de gestão de crise, nos dois momentos, são sempre adotados na emergência, de última hora, ao invés de se constituir em ações permanentes.

Face a isso, talvez valha lembrar a sabedoria popular segundo a qual “quem avisa, amigo é”. As previsões climáticas para o Pacífico Equatorial em 2023 são da presença da La Niña até março e do El Niño a partir de abril.  A certeza de chegada do El Niño este ano beira os 70%. Há probabilidade de um rápido período de neutralidade na temperatura entre fevereiro e março, mas a região não vai escapar do aquecimento. Pode até começar não tão intenso, porém, vai se instalar e não se sabe até quando. Podemos ter, pois, alguns anos de seca no Nordeste.

Esses estudos sobre o clima na América Latina estão chancelados por importantes institutos do Peru, pela Agência Meteorológica Mundial das Nações Unidas, pela Universidade de Columbia de Nova Iorque, pela Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos e por vários institutos climáticos brasileiros.

No Rio Grande do Sul já existe planejamento para aproveitar a volta das chuvas depois de três anos de seca, período da La Niña. No Nordeste se festeja a chuva, mas ninguém se preocupa com a iminência da volta da seca. Os governos, em todas as instâncias, silenciam quando já deveriam estar discutindo o tema. O povo vai novamente sofrer pela ausência de planejamento de risco. E São José vai pagar o pato outra vez com tanta promessa em seu nome e pedidos de chuva.

 

Com Portal T5

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