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Cajazeiras celebra 220 anos de nascimento do Padre Rolim, benfeitor perpétuo da cidade

Padre Inácio de Sousa Rolim – imagem reprodução

A cidade de Cajazeiras celebra, no dia 22 de agosto, os 220 anos de nascimento do padre Inácio de Sousa Rolim, filho dos fundadores da cidade, Vital de Souza Rolim e Ana Francisca de Albuquerque, e considerado seu grande benfeitor, pelo fato de ter fundado a primeira escola da localidade, ainda no século XIX, impulsionando o seu desenvolvimento.

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Na mesma data, também é comemorada a emancipação política do município, que, apesar de acontecido 23 de novembro de 1863, vem sendo comemorada em 22 de agosto desde 1948, após um projeto de lei do vereador Germiniano de Souza ter sido sancionado pelo prefeito Arsênio Rolim Araruna.

Nascido no sítio Serrote, no extremo oeste da capitania da Parahyba, Inácio contava poucos dias de vida quando seus pais passaram a residir na gleba de terra que receberam do sesmeiro Luís Gomes de Albuquerque (pai de Ana) como dote de casamento e onde Vital acabara de construir casa e currais, dando início a formação da fazenda das Cajazeiras.

Passou sua infância na primitiva Fazenda das Cajazeiras, ao lado dos irmãos mais velhos e os que vieram após ele. Desde muito cedo, demonstrava grande interesse pelas Letras. Aos dezesseis anos, já falava fluentemente o Francês e dedicava-se ao estudo do Grego e do Latim.

Inácio ingressou no Seminário de Olinda em 3 de setembro de 1822. Seu avô, Luís Gomes de Albuquerque, doou a propriedade Serra Vermelha para patrimônio de sua ordenação sacerdotal.

No decorrer do curso, exerceu as atividades de censor e bedel, integrando, posteriormente, o corpo docente do seminário, como professor de Grego.

Em 30 de julho de 1825, recebeu a primeira tonsura e, no dia 31 de julho, as ordens menores, em cerimônia realizada na Igreja da Congregação do Oratório do Recife. No dia 15 de agosto do mesmo ano, foi ordenado subdiácono, recebendo o diaconato a 25 de setembro, na Capela do Palácio Episcopal, em Olinda. No dia 2 de outubro de 1825, foi sagrado Presbítero.

Ordenado sacerdote, não pôde voltar, de imediato, à sua terra natal. Por algum tempo, permaneceu em Olinda, como professor de Seminário, atividade que exerceu paralelamente ao cargo de Reitor.

Cajazeiras, uma pequena povoação que se iniciava na fazenda dos seus pais, foi o local escolhido para o exercício do que viria a ser sua grande “revolução”.

Em 1829, Padre Rolim dava início às atividades da escolinha da Serraria (local onde se serrava a madeira usada nas construções das casas), uma casa pequena que abrigava meia dúzia de estudantes – embrião do colégio – que, mal grado a modéstia de suas instalações, ia crescendo em número de alunos dado o alto nível do ensino que habilitava seus discípulos a ingressarem no curso superior. A precariedade das instalações da escolinha não era uma preocupação para o Padre Rolim cujo único desejo era transmitir alguns conhecimentos a seus parentes e a outros jovens que por eles se interessassem.

Só em 1836, quando se apercebeu da repercussão que sua obra ia alcançando em todo sertão nordestino, é que se dispôs a transferi-la, para um prédio de alvenaria que, embora de pequenas proporções, melhor se adaptava às atividades a que se destinava.

O prédio ia aumentando com a matrícula de novos alunos, como relata o historiador Celso Mariz: ” A sua casa de ensino se fazia à proporção que chegavam os novos discípulos. Cada aluno esperava por seu teto, embora já encontrasse o seu livro .” (Através do Sertão – 1910).

Tal como ocorreu com a escolinha da Serraria, as aulas do Padre Rolim, em Cajazeiras, continuaram uma procura que excedia as condições físicas de suas instalações.

Em 1843, a atividade do padre Rolim já repercutia em quase toda região sertaneja e nas províncias de Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco, levando-o a transformar seu estabelecimento de ensino em colégio de instrução secundária. Era o primeiro colégio da Paraíba. Tal fato levou ao tribuno Alcides Carneiro a cognominar Cajazeiras de “a cidade que ensinou a Paraíba a ler”.

O exercício do magistério, no seminário de Olinda, rendeu-lhe, alguns anos depois, o convite do Governador de Pernambuco para instalar a cadeira de Grego no Ginásio Pernambucano, quando teve oportunidade de realizar a edição da sua Gramática Grega, obra impressa no ano de 1856, em Paris.

O reconhecimento oficial aos méritos do Padre Rolim aconteceu em 14 de março de 1860 quando, por Decreto Imperial, foi condecorado por Dom Pedro II, com as insígnias da Ordem de Cristo, no grau de Comendador. Pouco depois, no mesmo grau de Comendador, foi mais uma vez condecorado pelo Imperador que o agraciou com a Ordem da Rosa, pelos relevantes serviços prestados à causa da educação.

A partir do fechamento do colégio em 1877, o Mestre Rolim iniciou uma fase de decadência, vitimado pela tristeza de não mais poder manter seu colégio como antes.

O Padre Rolim era poliglota, falava fluentemente francês, inglês, alemão, italiano, espanhol, latim, Sânscrito, hebraico, tupí-guaraní e grego.

Fez da História Natural seu campo de predileção. Publicou, já aos 82 anos, o Tratado de História Natural . Além desse e da Gramática Grega, escreveu ainda uma gramática da Língua Portuguesa, um tratado de Filosofia e outro de Retórica.

Padre Rolim veio a falecer às 20 horas do dia 16 de setembro de 1899, vitimado por uma astenia cardíaca senil. No rigor da seca, o corpo do venerando Padre só foi sepultado no dia 18, cerca de quarenta horas após a morte, em local hoje desconhecido, no interior da então Matriz de Nossa Senhora da Piedade (atual Matriz de Nossa Senhora de Fátima). Conta-se que o cadáver não exalava mau cheiro. A população cajazeirense já lhe atribuía virtude de santidade pela proclamada humildade dos seus hábitos.

Propagou-se rapidamente que ele morrera em ” odor de santidade “. Dizia-se que era um santo, e como tal, passou a ser tratado pelos seus conterrâneos. Relembravam que ele se abstinha de comer carne em suas refeições, alimentando-se, apenas, de leite, frutas e biscoito. Ao longo de 74 anos, jamais dormira em cama ou rede, preferindo utilizar, como leito, duas caixas de madeira.

Em 1917, quando várias localidades sertanejas reivindicavam a instalação de uma escola normal, o deputado Genésio Gambarra, ao proferir seu voto, declarou: “Seja em Cajazeiras, em cujo céu de turquesa brilha como palio de benção e saudade a memória imortal de um sábio e de um santo, que foi o Padre Rolim, o mestre entre os mestres e o maior propulsor da educação nos sertões paraibanos.”

Nos meios culturais do estado, a mais significativa homenagem prestada ao Padre Rolim foi a sua escolha como patrono da cadeira número vinte e seis da Academia Paraibana de Letras, uma iniciativa do Cônego Matias Freire, fundador da Academia.

*fonte: Coisa de Cajazeiras

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