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Por 55 a 22, presidente Dilma é afastada e PT deixa o poder depois de 13 anos

Brasília – Por 55 a 22, a presidente Dilma Rousseff é afastada e tira o PT do poder depois de 13 anos. O afastamento é por até 180 dias. Os senadores discursaram durante toda a madrugada e a votação aconteceu pouco depois das 6h30 desta quinta-feira.

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A votação da abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff ainda estava longe de começar quando o senador Romero Jucá (PMDB-RR) avisou aos colegas, no meio da tarde, que o vice-presidente Michel Temer seria notificado na manhã de hoje, por volta das 11h, da decisão do Senado de afastar a petista do cargo. Jucá havia acabado do chegar do Ministério da Fazenda, onde fora se reunir com o ‘quase’ ex-ministro Nelson Barbosa. “Não há vazio de poder”, resumiu o peemedebista.

Foi este clima de derrota de Dilma que imperou durante todo o dia de ontem em Brasília. Desde o início da longa sessão no Senado, que começou às 10h e se estendeu pela madrugada de hoje, ficou claro que o afastamento da presidente eram favas contadas:até as 23h, nada menos que 28 dos 36 senadores — 77% — que haviam discursado no plenário indicaram voto contra a petista. Entre eles o senador Fernando Collor (PRD-AL), o primeiro presidente da República a sofrer impeachment, em 1992.

A sessão do Senado, que aprovou a abertura do impeachment contra Dilma, começou às 10 h da manhã. A maioria dos senadores discursou a favor do afastamento da presidente. (Foto: Efe)

Em seu discurso, ouvido com atenção por todos os parlamentares, Collor se disse injustiçado por não ter sido comprovado crime para seu afastamento. “A História me reservou esse momento. Devo vivê-lo no estrito cumprimento do dever”, afirmou o senador, sem declarar seu voto. A expectativa de aliados de Temer era que a abertura do processo fosse aprovado por mais de 50 votos. O afastamento tem prazo máximo de 180 dias, mas a previsão é que o Senado julgue-a pelas pedaladas fiscais e créditos orçamentários sem autorização antes disso.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tentou um acordo para encurtar a fala dos 70 senadores inscritos para discursar na sessão e, dessa forma, concluir ontem mesmo a votação. Mas ninguém quis abrir mão de seu discurso.

A defesa da presidente no plenário ficou restrita aos senadores do PT, PC do B, PDT e a uns poucos ‘dissidentes’ do PMDB, como o senador Roberto Requião (PR). Num discurso histriônico, ele chamou o processo de “besteira, monumental asneira”. Afirmou também que “o governo da Dilma é o governo do arrocho fiscal prometido pelo PSDB na campanha eleitoral. Mas hoje eu vejo todo o grupo da oposição dizendo ‘não, a Dilma errou, quebrou o Brasil’”.

Para o líder do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PB), a “irresponsabilidade” de Dilma empurrou o Brasil para a gravidade do quadro atual. “As pessoas estão sofrendo nesse país. Não é uma crise comum, não é uma crise banal. E precisamos interpretar essa crise com a sua dimensão e a sua profundidade”, afirmou o tucano.

Dilma passou a manhã de ontem no Palácio da Alvorada, onde gravou um pronunciamento que será veiculado hoje nas redes sociais. A decisão de escolher as redes sociais para falar sobre seu afastamento, e não convocar cadeia de rádio e TV, repete uma estratégia já utilizada pela presidente. Dilma foi aconselhada pelo ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), José Eduardo Cardozo, a não usar as rádios e televisões para evitar possíveis questionamentos jurídicos. Além disso, no formato de vídeo pelas redes sociais, Dilma “terá mais liberdade” para fazer críticas a seus opositores.

Por volta das 15h, Dilma chegou ao Planalto onde “despachou normalmente” e se encontrou com alguns ministros. Segundo o ministro do Gabinete Pessoal da Presidência, Jaques Wagner, a presidente estava “tranquila”. “Como é da característica dela, ela está firme, indignada pela injustiça e pela violência que está sendo cometida, mas está tranquila, administrando os atos de governo como qualquer presidente tem que fazer e aguardando a decisão dos senadores”, disse o ministro.

Hoje, às 10 h, a presidente pretende falar à imprensa no Salão Leste do Palácio Planalto. Os ministros vão apresentar seu pedido de demissão coletiva.

ENTENDA AS PEDALADAS

A presidente Dilma é acusada de maquiar as contas com empréstimos contraídos junto a bancos públicos. São as chamadas “pedaladas fiscais”, que estão entre as razões elencadas pelos juristas Miguel Reale Júnior e Janaína Pascoal para o pedido de impeachment. As pedaladas são atrasos ocorridos nos repasses de recursos do Tesouro Nacional para bancos públicos, como o Banco do Brasil, a Caixa e o BNDES, além do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Essa manobra fiscal é comum: os ex-presidente Lula e Fernando Henrique, assim como governadores, lançaram mão das pedaladas.

OS DIREITOS DE DILMA

Afastada do cargo, Dilma continuará usufruindo de regalias inerentes à Presidência da República. Um projeto de resolução será votado para definir os direitos da presidente. Dilma irá continuar morando no Palácio da Alvorada e deverá manter o direito a usar os aviões da FAB e à segurança, além de assistência médica e equipe do gabinete pessoal. Uma das dúvidas é em relação ao salário: pela Lei 1.079/50, ela passaria a receber metade de sua remuneração, ou seja, R$ 15,4 mil, até o final do julgamento pelo Senado. Mas há divergências porque a Constituição de 1988, posterior à lei, proíbe a redução de salário dos servidores.

 

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