Cultura

Leia: “Natal de Jesus na pessoas dos pobres” por padre Djacy Brasileiro

PadreJesus nasceu pobre, na periferia, distante dos palácios, do luxo, das riquezas. Como pobre, sentiu as dores do povo oprimido, injustiçado, ferido na sua dignidade de pessoa humana. Aliás, toda sua vida foi voltada para os pobres. Basta ver suas ações e palavras direcionadas aos mesmos: “ide, e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: os cegos veem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho (Mt, 11,4-5).

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É Natal! Nos templos suntuosos, o nascimento do menino Jesus é celebrado com rigorosa solenidade litúrgica. Tudo dentro dos padrões. Tudo é lindo, encantador, emocionante. Mas a pergunta que não quer calar: qual o nosso compromisso cristão com tantos irmãos e irmãs que clamam por vida, e vida em abundância? No dia a dia, assumimos as causas dos pobres? Damos ouvidos aos seus clamores? Apoiamos sua luta por vida, justiça, dignidade?

É Natal! Nos auditórios católicos refrigerados da TV, o Natal é celebrado com pompas, aplausos, músicas emocionantes, louvores e mais louvores, danças e pula e pula. É muita emoção, é muita festa. As lágrimas rolam. Tudo é lindo, mas vem o questionamento profético: a fé crista dessa gente é uma fé libertadora, promovedora, historicizada, ou é uma fé intimista, subjetivista, alienante, reacionária? É uma fé que fica somente no emocionalísmo, nas lágrimas, sem nenhum compromisso com os irmãos que clamam por vida, justiça, dignidade? Se for assim, então ouçam o que Jesus falara: “nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai” ( (Mateus 7:21).

É Natal! Muita luz, muita festa, muita música e muito enfeite. Na noite de Natal, haverá muito banquete, muita comilança. Nas mansões, o clima é de grande festa. Cada um com sua roupa caríssima, elegância fora do comum. Tudo é encantador, maravilhoso, emocionante: Comidas, bebidas, músicas, desfiles de modas. Porém, o Jesus pobre, esfarrapado e humilhado, na pessoa dos famintos, doentes, presos, injustiçados, não será o centro da festa. Para essa gente, esse Jesus não existe. Então nada de sensibilidade humano-cristã diante do choro do menino Jesus na pessoa dos pobres.

É Natal! Para a elite, envolvida na sua elegância e luxo, o menino Jesus é lindo, gordinho, que cresceu e viveu numa boa, só que não dar conta que Jesus nascera pobre, em lugar pobre e vivera pobre, com os pobres, e por causa dos pobres fora assassinado. Então esse Jesus que está no imaginário dos ricos, dos poderosos, não existe.

É natal! Na noite de Natal, nos países pobres, milhares de crianças estarão com fome, sede, doentes, sentindo-se abandonadas, desprezadas, sem amor, jogadas nos braços impuros das ruas etc. É o choro do Menino Jesus na boca desses inocentes.

999511_10201061346968888_647984977_nÉ natal! No dia do nascimento do Jesus pobre, nascido fora da cidade, milhões de seres humanos, nos países da África, Ásia, A. Latina, estarão gritando: socorro! Falta pão na nossa mesa.

É natal! Neste dia, muitos animais de estimação estarão com suas roupas novas, de marcas, banhados e cheirosos, comendo comida especial, mas milhões de criancinhas preferidas de Jesus vão dormir chorando pedindo um pouco de pão.

É Natal! Nas periferias, nas favelas, nas ruas, nas calçadas, os clamores dos pobres por justiça social, por dignidade, por liberdade, por pão e água, chegam aos ouvidos de Deus.
É Natal! Muita festa pra Jesus. Mas esquecemos de que o Menino Jesus, na pessoa dos pobres, tem sua vida dilacerada, tragada, liquidada, pela força maléfica das drogas, da prostituição e do assassinato. E é uma tristeza evangélica constatar que a grandíssima maioria dessas vítimas é composta de pessoas pobres, negras, analfabetas e faveladas. E para decepção de Jesus, a sociedade dita cristã fecha os ouvidos para não ouvir os clamores desses filhos prediletos de Deus.
É Natal! Em alguns países da África, o menino Jesus chora na pessoa vítima do Ebola. É o choro do desespero, do desengano, do abandono.
É Natal! Milhares de idosos vivem entregue ao abandono, ao desprezo, à triste solidão. É o choro de Jesus na pessoa desses irmãos tidos como objetos descartáveis, sem graça e sem brilho.
É Natal! Enquanto magistrados e promotores ganham o absurdo do auxilio- moradia, milhares de filhos de Deus não têm para onde ir, e quando conseguem um abrigo irregular, são despejados, por ordem da justiça, com a maior brutalidade policial: bombas, cães, cassetetes, violência e prisão. E Jesus chora em cada irmão pisoteado pela força bruta e desumana do Estado.
É Natal! Políticos sem escrúpulos aumentam seus próprios salários, vivendo na maior regalia. Enquanto isso, milhões de trabalhadores morrem de trabalhar para ganhar seu sustento. O que ganham, mal dá para viver. Como essa gente de gravata e paletó pode celebrar o Natal de Jesus?
É natal! Endeusamento do mercado, do dinheiro, do ter. Então a pessoa só vale enquanto produz. Daí nasce a cultura do relativismo ético-religioso. É o natal dos endinheirados, dos que exploram os trabalhadores visando unicamente o lucro.
É natal! Desprezo à pessoa humana, fome, miséria, sede, guerra, desemprego, injustiça social. O Natal é celebrado, mas o Jesus na pessoa dos pobres, dos doentes, dos idosos, é coisificado ou descartado. Quanta hipocrisia na noite de Natal!
É Natal! E as cadeias continuam lotadas de presos, na grandíssima maioria de pobres, negros, analfabetos, favelados. Muita festa natalina, mas ignoramos o que Jesus falara: “estive na prisão, e não me visitastes” (Mt, 25).

Se no Natal do Senhor Jesus ficamos só na formalidade, no louvor, na estética celebrativa, na festa regada às melhores comidas e bebidas, nos coloridos das luzes da árvore de natal, nas música e danças, mas sem nenhum comprometimentos com a libertação dos pobres, então tomemos para nós estas palavras proféticas do Senhor da vida: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim”(Mt 15,8).
Onde houver um ser humano amado, respeitado, valorizado, tratado com dignidade, aí acontece o verdadeiro e Santo Natal do Senhor.

Padre Djacy brasileiro, em 23 de dezembro de 2014.
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