O descobrimento do Brasil

No Brasil de hoje, os cidadãos têm medo do futuro e os políticos têm medo do passado.
Chico Anysio
Francisco Jarismar de Oliveira (Mazinho)| Colunista

Como preparação para o ano de 2018, tomo a liberdade de sugerir ao nosso inquieto leitor algumas reflexões básicas e de fácil conjugação com a nossa realidade no tempo presente. Sabemos das dificuldades que ora enfrentamos, mas debruçarmo-nos sobre algumas delas talvez nos renda uma cota de sobriedade e encorajamento necessário ao duro combate nos anos vindouros.

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Alguns produtos e serviços necessários a uma digna subsistência nos foram encarecidos exageradamente. Respeitemos os contextos regionais e façamos de cabeça as contas do aumento da energia elétrica, dos combustíveis automotivos e do gás GLP (gás de cozinha). Consideremos que o ano ainda não terminou e que alguns reajustes ainda poderão acontecer. Situação extremamente desconfortável, não? É o que temos na despedida deste ano, para não elencar outros dissabores.

Restringimos-nos a estes três itens por aceitá-los como indispensáveis à vida de qualquer cidadão. Independente de classe, ou qualquer outra estratificação social, as pessoas utilizam-se destes produtos em maior ou menor intensidade nos seus cotidianos. Isso é fator relevante a ser observado tendo em vista que qualquer inflação que sobre eles incida repercute na qualidade de vida das pessoas. Para ignorá-los teríamos que voltar ao período pré-revolução industrial e, convenhamos, em tempos de redes sociais isso é inadmissível!
Estamos fadados a sofrer a sucção desmedida dos nossos salários por razões já estabelecidas. Lembremos: o congresso aprovou, e já está em vigência, a Emenda Constitucional nº 95, que estabelece o Teto dos Gastos Públicos e seu congelamento por 20 (vinte) anos. Quando situo 2018 como o primeiro front de batalha é porque, a partir de então, passaremos a experimentar realmente os efeitos da famigerada “PEC da Morte”, como foi batizada.

Estejamos certos de que nossos salários não sofrerão nenhuma reparação que não o da inflação (medida pelo governo!). E que os serviços de que tratamos não estarão submetidos a essa maldita EC 95. O ano de 2017 já é uma prova disto, basta comparar o seu aumento salarial x todos os aumentos que aconteceram ao seu redor.

Some-se a todo esse cenário desolador o fato de que o governo está a desonerar as petrolíferas que estão se instalando no país, quando através de Medida Provisória 795 – já em vigor -, renuncia a 1 trilhão de reais em receitas fiscais até 2040 nos leilões do pré-sal pela ANP (Agência Nacional do Petróleo). Recurso que em parte seria destinado à saúde e a educação.

Acrescentemos, ainda, a última receita de falência estatal proposta e aprovada no plenário da câmara federal em 14 de dezembro, a PLS 204/2016, de autoria do senador José Serra (PSDB) que dispõe sobre a venda de créditos tributários a receber pelos estados e municípios. Ora, se estes já estão quebrados pela má gestão das receitas com as fontes que possuem, imagine vendendo as receitas e fontes futuras, juntas! Ainda não é o fim. “Quando um trabalho é mal feito, qualquer tentativa de melhorá-lo piora” eis a Lei de Murphy que se instalou no Estado brasileiro. Socorro!

Por fim, “se o povo não pode confiar em seu governo para fazer o trabalho para o qual ele existe – proteger a população e promover o seu bem-estar – tudo está perdido”, assertou Barack Obama. O nível de descrédito no governo brasileiro alcança patamares desencantadores. O Brasil, infelizmente ancorou suas naus num estado de exceção econômica e desembarca num capitalismo do desastre social.

Mais ainda existe uma fresta de luz em 2018, mas só, e somente, se houver eleições diretas. Mas isso é um pesadelo a ser vivido no seu tempo. Por enquanto o governo está descobrindo Brasil, desprotegendo-o, deixando-o nu e vendendo suas proteções. Mas, acreditemos, o Brasil não acaba por aqui!

FRANCISCO JARISMAR DE OLIVEIRA (Mazinho)
Licenciado em História pela UFPB
Servidor Público Federal do IFPB