Nove alunos e um segredo

Faz parte da humanidade de um mestre advertir seus alunos contra ele mesmo. (Friedrich Nietzsche)

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Francisco Jarismar de Oliveira | Colunista

Receber instrução e formação dos muitos professores e, com isso, gradualmente, ampliar sua percepção e compreensão do mundo, da sua própria personalidade e persona, eis a tarefa cotidiana do alumnus. À medida que avança em sua trajetória acadêmica ampliam-se os seus horizontes. Na mesma proporção expande-se as responsabilidades dos seus mestres em ajudá-los na preparação para a vida ante toda a sua complexidade e escolhas.

Não. Aluno não quer dizer “sem luz”. Na penumbra estão os propagadores da versão em que “aluno” tem origem no latim, onde ‘a’ equivale a “ausente ou sem” e ‘luno’, derivante da palavra ‘lumni’, traduz-se por “luz”. Se o termo fosse grego, talvez (pois o ‘a’, realmente é prefixo de negação nessa língua). Porém, a palavra é de origem latina onde o ‘a’ significa ‘movimento para’, ‘aproximação’, ‘na direção de’ + lumen, luminis (luz) = aquele que segue rumo a luz. E os alunos do IFPB Campus Sousa marcham radiosamente nessa direção!

Dos gregos legamos um aforismo: “Conhece-te a ti mesmo”, inscrito no pátio do Templo de Apolo em Delfos. Essa máxima, que orientou os filósofos da antiguidade clássica, chega à contemporaneidade no gesto de nove destemidos alunos que, assim como Sócrates, acreditam que o autoconhecimento é condição sine qua non para a evolução da racionalidade na criatura humana. Quando nos conhecemos e identificamos nossos pontos fortes e fracos, edificamos as fortalezas da nossa resistência moral.

A auto-observação, o bom senso e a coragem fermentam prematuramente nos discípulos quando do enfrentamento aos desafios da vida. E nesse momento os pupilos, por vezes, chegam a ensinar aos seus mestres, pelo destemor e encantamento pela vida, outrora abandonado pelo materialismo de alguns professus.

Nesta semana novem alumnus desvendaram um segredo para toda uma comunidade escolar. Eles responderam a um questionamento inquietante: que modelo de educadores representamos para os nossos alunos? E no descortinar dessa dúvida trouxeram à luz uma resposta, para muitos desconfortável, para outros desapontadora, para algunss angustiante, mas para os seus reveladores foi a mais recompensadora possível: – Nós queremos a representação pelo modelo do respeito!

O mestre Paulo Freire resistia em crer que as criaturas chegam a escola como um papel em branco, onde aos mestres caberá a escrita do conhecimento da vida e dos homens. Ao contrário, ele afirma, na Pedagogia da autonomia, que a interação educador/aluno deve navegar numa prática pedagógica que respeite os valores e conhecimentos que o educando já traz consigo ao chegar na escola. Orienta, ainda, que se reconheça neste um sujeito social e histórico, capaz de tomar decisões responsáveis, ainda que precocemente, sustentado por seus valores próprios.

Nove alunos e um segredo desvendado! O segredo da deferência que transborda no gesto de uma escolha eletiva. A definição pelo juízo, apuramento, distinção, discernimento, critério, triagem e o estímulo a vicissitude que afloram na mais tenra idade. A aproximação da luz faz do alumnié, também, luz.

Luz convertida e representada no animar-se, estimular-se e no esperançar-se. Luz que afugenta as trevas do medo, do desrespeito, da intimidação, do desencorajamento, da desesperança. Luz dos que não esperam, que fazem no presente as lições que ensinarão no futuro!

FRANCISCO JARISMAR DE OLIVEIRA (Mazinho)
Licenciado em História pela UFPB
Servidor Público Federal do IFPB